domingo, 21 de junho de 2009

COMBATE À “REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE SÃO PAULO”

COMBATE À “REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE SÃO PAULO”
No dia 5 de julho de 1932, a Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte, no comando geral, do Major Jacinto Tavares Ferreira, partiu para o Estado de São Paulo, via Recife-PE, pelo trem da Grat Moreira, uma Companhia da PM, sob o comando do Capitão Severiano Elias Pereira, conforme determinação expressa do Interventor Federal do Estado Bertinho Dutra, cuja companhia tinha uma missão de combater juntamente com outras co-irmãs o movimento Revolucionário, que passou à História com a denominação de REVOLUÇÃO CONSTITUCIONISTA DE SÃO PAULO, contra a datadura do senhor Getúlio Vargas, CUJO MOVIMENTO TEVE INÍCIO NO DIA 9 DE JULHO DE 1932

Primeiro contingente
Relacionaremos a seguir a relação dos nomes do primeiro contingente que seguiu para o Estado de São Paulo, no dia 5 de julho de 1932:
COMANDANTE – CAPITÃO SEVERINO ELIAS PEREIRA
RFRTIVO:
1º TENENTE INÁCIO GONÇALVES VALE
2º TENENTE LUIZ CÂNDIDOO DE OLIVEIRA
2º TENENTE JUVINO LOPES DA SILVA
1º SARGENTO PEDRO CECILIANO LUSTOSA
2º SARGENTO GENÉSIO CABRAL DE LIMA
2º SARGENTO BENEDITO PEREIRA DOS SANTOS
2º SARGENTO ANTONIO HONORATO DA SILVA
2º SARGENTO ANTONIO PEDRO DA SILVA
3º SARGENTO MANUEL ALVES FREIRE
3º SARGENTO JOSÉ FERNANDES DA SILVA
3º SARGENTO JOSÉ PAULINO DE MEDEIROS
3º SARGENTO JOSÉ MESQUITA
3º SARGENTO JOSÉ CORDEIRO DE PAULA
3º SARGENTO ANTONIO FÉLIX DE LIMA
3º SARGENTO LUIZ DE FRANÇA OLIVEIRA
3º SARGENTO JOÃO DOMINGOS FERREIRA
3º SARGENTO JOÃO ANTONIO DE OLIVEIRA
CABO-DE-ESQUADRA JOÃO ANTONIO DE OLIVEIRA
CABO-DE-ESQUADRA BERNARDO PINHEIRO GARCIA
CABO-DE-ESQUADRA AUGUSTO LEOPOLDO SOBRINHO
CABO-DE-ESQUADRA SEBASTIÃO GIL DE SOUZA
CABO-DE-ESQUADRA TOMAZ TEIXEIRA DO NASCIMENTO
CABO-DE-ESQUADRA JOSÉ DA SILVA PASTEL
CABO-DE-ESQUADRA VICENTE FAUSTINO DE OLIVEIRA
CABO-DE-ESQUADRA MANUEL AMARO DA SILVA
SOLDADO Nº 417 – ANTONIO ANTENOR TRIGUEIRO
SOLDADO Nº 238 – RAFAEL AFONSO DE OLIVEIRA, este pai do major Francisco Alvibá
SOLDADO Nº 358 – JOAQUIM NASCIMENTO DA SILVA
SOLDADO Nº 205 – JOÃO FIRMINO DE SALES, natural de Nísia Floresta, nascido a 1º de abril de 1906, filho de Firmino José de SALES E DE DONA Joaquina Carolina de Sales, ingressou na PMRN no dia 12 de março de 1927. Faleceu em Natal, no dia 25 de janeiro de 1998
SOLDADO Nº 235 – JOSÉ RIBEIRO DA SILVA
SOLDADO Nº 443 – VALDEMIRO ALVES DE OLIVEIRA
SOLDADO Nº 222 – JOAQUIM PAULINO DE AZEVEDO
SOLDADO Nº 299 – GERALDO VICENTE DE LIMA
SOLDADO Nº 161 – MANUEL PAULINO DE CARVALHO
SOLDADO Nº 234 – CARLOS NUNES
SOLDADO Nº 134 – LUIZ JERÔNIMO DA SILVA
SOLDADO Nº 157 – SEBASTIÃO MARCOLINO CARLOS NUNES
SOLDADO Nº 181 – GERALDO ISIDIO DE MORAIS
SOLDADO Nº 182 – JOAQUIM SANATANA DE OLIVEIRA
SOLDADO Nº 218 – FRANCISCO BONIFÁCIO ONÇA
SOLDADO Nº 219 – JAQUIM DELMIRO BARBOSA
SOLDADO Nº 220 – JOSÉ MARCELINO DA SILVA
SOLDADO Nº 229 – ANTONIO CLÁUDIO
SOLDADO Nº 270 – FRANCISCO AZEVEDO DE LIMA
SOLDADO Nº 277 – JOÃO FERREIRA DE OLIVEIRA
SOLDADO Nº 283 – WALDEMAR TORRES GALVÃO
SOLDADO Nº 285 – JOSÉ JOAQUIM SEVERIANO
SOLDADO Nº 287 – ANTONIO BONIFÁCIO
SOLDADO Nº 294 – DOUVINO ODIVAL CORREIA
SOLDADO Nº 296 – PEDRO ALVES DA SILVA
SOLDADO Nº 301 – TEODORICO RICARDO DE OLIVEIRA
SOLDADO Nº 314 – JOSÉ SOARES DE LIMA
SOLDADO Nº 318 – HIPÓLITO SOARES DA SILVA
SOLDADO Nº 323 – JOÃO FRANCISCO DE OLIVEIRA
SOLDADO Nº 327 – ADALBERTO FERREIRA DE QUEIROZ
SOLDADO Nº 334 – JOAQUIM ALEXANDRE DE FREITAS
SOLDADO Nº 337 – BENTO PACÍFICO DE MEDEIROS
SOLDADO Nº 378 – JOSÉ CRISPIM CAFÉ
SOLDADO Nº 380 – FRANCISCO LAURO DA SILVA
SOLDADO Nº 381 – CÍCERO ABDON QUIRINO
SOLDADO Nº 382 – FRANCISCO CONSTATINO DE MORAIS
SOLDADO Nº 383 – ANTONIO LAVES LEITÃO
SOLDADO Nº 387 – LUIZ AMÂNCIO IDALINO
SOLDADO Nº 388 – JOÃO MAXIMIANO DA ROCHA
SOLDADO Nº 390 – ABDON CAVALCANTE
SOLDADO Nº 391 – JOSÉ SEVERIANO
SOLDADO Nº 393 – ENEAS PEREIRA DOS SANTOS
SOLDADO Nº 394 – ALCEU CABRAL DE VASCONCELOS
SOLDADO Nº 396 – LUIZ ANTONIO DE MELO
SOLDADO Nº 397 – FRANCISCO FIRMINO
SOLDADO Nº 400 – ANTONIO MENEZES DA COSTA
SOLDADO Nº 404 – PEDRO VIEIRA DA SILVA
SOLDADO Nº 405 – FRANCISCO PEREGRINO DA SILVA
SOLDADO Nº 409 – CÍCERO ROMÃO BATISTA
SOLDADO Nº 410 – JOAQUIM ALVES DA SILVA
SOLDADO Nº 411 – ADEILDO PEREIRA DA SILVA
SOLDADO Nº 412 – ANTONIO CATOLÉ
SOLDADO Nº 413 – MANUEL AMARO DA SILVA
SOLDADO Nº 415 – LUIZ PEREIRA DA SILVA
SOLDADO Nº 421 – ABÍLIO LOURENÇO CORREIA
SOLDADO Nº 422 – MANUEL ISIDRO DA SILVA
SOLDADO Nº 424 – LUIZ RIBEIRO BARBOSA
SOLDADO Nº 425 – RAIMUNDO BEZERRA FEITOSA
SOLDADO Nº 426 - MAXIMIANO MONTEIRO
SOLDADO Nº 427 – JOÃO BATISTA DOS SANTOS
SOLDADO Nº 428 – JOÃO JUVENAL DA SILVA
SOLDADO Nº 429 – MANUEL JOSÉ DO NASCIMENTO
SOLDADO Nº 430 – JOSÉ PEREIRA DE LIMA
SOLDADO Nº 432 – SEVERINO JOSÉ DE OLIVEIRA
SOLDADO Nº 185 – JOSÉ SILVÉRIO GOMES
SOLDADO Nº 267 – MANUEL PEREIRA DA SILVA
SOLDADO Nº 284 – MANUEL PEREIRA DE ARAÚJO
SOLDADO Nº 396 – JOEL CIPRIANO
SOLDADO Nº 268 – MANUEL RIBEIRO DA CRUZ
SOLDADO Nº 436 – JOEL CIPRIANO
SOLDADO Nº 368 – PIO PEREIRA DA SILVA
SOLDADO Nº 347 – JOSÉ ANTONIO DO NASCIMENTO
SOLDADO Nº 226 – JOÃO INÁCIO DE JESUS
SOLDADO Nº 221 – FRANCISCO RODRIGUES DO NASCIMENTO
SOLDADO Nº 202 – JOAQUIM MENDES DA SILVA
SOLDADO Nº 321 – SEBASTIÃO TIBÚRCIO
SOLDADO Nº 322 – JOÃO ROSENDO FILHO
SOLDADO Nº 433 – GABRIEL BEZERRA DA SILVA
SOLDADO Nº 196 – SEVERINO FELÍCIO DOS SANTOS
SOLDADO Nº 260 – GALDINO BATISTA DAS CHAGAS
SOLDADO Nº 254 – MOISÉS GONÇALVES DE ARAÚJO
SOLDADO Nº 312 – JOSÉ JERÔNIMO DA SILVA
SOLDADO Nº 438 – SEVERINO VICENTE DE LIMA
SOLDADO Nº 418 – JOÃO CATUNDA DOS SANTOS
SOLDADO Nº 398 – FRANCISCO VIEIRA DE LIMA
SOLDADO Nº 288 – ABDON BEZERRIL
SOLDADO Nº 335 – ARTUR LEOCÁDIO DA SILVA
SOLDADO CORNETEIRO TAMBOR Nº 155 – FRANCISCO JOSÉ DO SOLDADO
SOLDADO CORNETEIRO TAMBOR Nº 156 – JOAQUIM LUIZ DA SILVA
SOLDADO CORNETEIRO TAMBOR Nº315 – JOSÉ ERNESTO BEZERRA
SOLDADO CORNETEIRO TAMBOR Nº212 – JOSÉ GOMES DE ANDRADE
SOLDADO CORNETEIRO TAMBOR Nº 213 – ESTÊVÃO CARLOS GALVÃO
ARMAMENTO
121 “MAUSER”, MODELO Brasileiro 1908, com 46.400 munições
03 fuzis “hotchkiss”, com 3.840 munições
SEGUNDO CONTIGENTE
O segundo contingente da PMRN, comandado pelo TENENTE ALBERTO GOMES DE SOUZA, viajara no mês de agosto de 1932, com destino ao Estado de São Paulo, para junta-se ao primeiro contingente que seguiram no dia 25 de julho de 1925.
MORTE DO TENENTE ALBERTO
A Revolução Constitucionalista de São Paulo, que teve início no dia 9 de julho de 1932, no território paulista, ocorreu a morte do tenente da PMRN Alberto Gomes de Souza, que no dia 22 de agosto de 1932, tombor mortalmente em solo do Estado de São Paulo, morrendo como Herói, por uma causa que julgava justa. O Tenente Alberto era um oficial ardoroso e leal que soube cumprir o seu dever com dedicações e bravura.
PROMOÇÃO POST-MORTEM DO TENENTE ALBERTO
O Interventor Federal do Rio Grande do Norte, Capitão Tenente BERTINO DUTRA DA SILVA, no dia 28 de setembro de 1932 promoveu post-mortem a primeiro tenente, o segundo tenente PMRN ALBERTO GOMES DE SOUZA, através do Decreto n° 342, de 28 de setembro de 1932, abaixo transcrito.
DECRETO Nº 342, DE SETEMBRO DE 1932
O INTERVENTOR FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, usando de suas atribuições, e considerando que o 2º Tenete do Batalhão de Polícia Militar, ALBERTO GOMES DE SOUZA, incorporado às tropas em operações contra os rebeldes paulistas, foi morto, no dia 22 do corrente, em combate, no qual de destacou cela coragem, firmeza e abnegação com que lutava pela defesa da integridade da Pátria;
Considerando que o seu heroísmo e sacrifício constituem um nobre exemplo de patriotismo e de dignidade militar;
CONSIDERANDO que o extinto ainda não tinha, como oficial, o tempo de exercício necessário para que a sua família fizesse jus à pensão de Mobtepio;
CONSIDERANDO porém, que tem o Estado o dever de amparar a família dos que perdem a vida no desempenho de tão alta missão
DECRETA:
Art. 1º - É promovido, por ato de bravura, ao posto de 1º tenente do Batalhão de Polícia Militar, o 2º Tenente PM ALBERTO GOMES DE SOUZA, morto em combate contra os rebeldes de São Paulo
Art. 2º - É considerada à mãe do referido oficial, a partir do dia 22 do corrente, uma pensão mensal de 300$00 )TREZENTOS MIL RÉIS) no caso de falecimento de beneficiária essa pensão será dividida entre as irmãs solteiras e os irmãos menores do extinto e se extinguirá nos casos previstos na Lei nº 637, de 11 de novembro de 1926, que dispõe sobre o Montepio dos funcionários estaduais.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.
Palácio do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, em Natal, 28 de setembro de 1932, 44] da Republica
(as) BERTINO DUTRA DA SILVA
Lélio Augusto Soares da CÂMARA

sexta-feira, 22 de maio de 2009

LEVANTE POTIGUAR

Levante potiguar
Durante quatro dias, em 1935, Natal esteve sob o controle dos comunistas. Mesmo derrotada, a revolta que reivindicava “pão, terra e liberdade” marcou a história do Rio Grande do Norte
por Marco Aurélio Vannucchi L. de Mattos
ARQUIVO NACIONAL, RIO DE JANEIRO
Fachada do prédio da Força Pública do Rio Grande do Norte após o levante
Natal amanheceu tranqüila naquele sábado, 23 de novembro de 1935. A capital do Rio Grande do Norte tinha, então, uma população de 40 mil habitantes. Na cidade pouco industrializada, o movimento portuário era intenso. Navios seguiam para a Europa carregando sal e algodão – os principais produtos da economia potiguar. A calmaria daquele dia começou a ser perturbada com a chegada de uma carta do chefe da Região Militar para o comandante do 21o Batalhão de Caçadores (BC). Nela, o general Manuel Rabello autorizava a dispensa de praças suspeitos de participação em assaltos a bondes.

A notícia da expulsão de quase 30 soldados causou silenciosa revolta no quartel. À tarde, militar do 21o BC reuniram-se com dirigentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) estadual para examinar a situação. Às 19h30, no mesmo quartel, o cabo Giocondo Alves Dias, o sargento Quintino Clementino de Barros e o soldado Raimundo Francisco de Lima, muito bem armados, renderam o oficial de dia: “O senhor está preso, em nome de Luiz Carlos Prestes”.

Dominado, o quartel foi aberto para os civis que apoiavam o movimento. Estivadores, liderados pelo presidente do sindicato da categoria, João Francisco Gregório, eram maioria. Os rebeldes organizaram tropas de civis e militares, que foram deslocadas para pontos estratégicos da cidade. No dia seguinte, domingo, Natal já estava integralmente sob o controle dos insurretos.

Depois da fuga ou prisão de autoridades estaduais, os rebeldes constituíram uma junta governativa, que batizaram de Comitê Popular Revolucionário. O sapateiro José Praxedes foi nomeado secretário do Abastecimento; o diretor do presídio de Natal, Lauro Lago, secretário do Interior e Justiça; o funcionário do Liceu Ateneu, João Galvão, secretário da Viação; o sargento Quintino de Barros, secretário da Defesa; e o tesoureiro dos correios, José Macedo, secretário das Finanças.
REPRODUÇÃO
Prestes depõe na polícia especial, após o levante comunista de 1935
Em praça pública, o governo revolucionário dirigiu-se à população da cidade, anunciando seus primeiros atos: a destituição do governador e da assembléia estadual. De acordo com o relato feito por José Praxedes, décadas mais tarde, o povo que assistiu à proclamação respondeu com gritos de “Viva a Revolução”, “Viva o Governo Revolucionário”, “Viva Prestes”.

Os revolucionários trataram, em seguida, de providenciar os meios materiais para assegurar seu poder. Fizeram requisições de carros, alimentos e armas a proprietários e comerciantes. Confiscaram os cofres do Banco do Brasil, do Banco do Rio Grande do Norte e da Recebedoria de Rendas. Aproveitando-se da situação, a população de Natal lançou-se a saques ao comércio local – ignorando os apelos da junta de governo.

A conquista do interior do estado passou para a ordem do dia, com a formação de três colunas de combatentes. Segundo Homero Costa, em seu livro A insurreição comunista de 1935, a primeira deveria seguir em direção a Mossoró; a segunda, até a divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba; e a última, para a cidade de Goianinha.

Os revolucionários ocuparam 17 dos 41 municípios potiguares e, quando possível, entregaram o poder a personalidades locais ligadas à Aliança Nacional Libertadora (ANL).

No dia 26 de novembro, o Comitê Popular decidiu publicar um jornal, A Liberdade, para informar a população sobre as ações e os planos do novo governo. Incumbiu Raimundo Reginaldo da Rocha de dirigir os trabalhos. Rocha era professor primário e dirigente do PCB local.
© ACERVO ICONOGRAPHIA
Otávio Brandão, dirigente do PCB na década de 20 (segundo da esquerda para a direita, de pé), ao lado de membros da Internacional Comunista em 1931. A IC apoiou o levante de 1935 no Brasil
A Liberdade explicava o programa revolucionário: amplas liberdades democráticas, reforma agrária, incentivo à industrialização, trabalho para todos, aumento dos salários dos trabalhadores rurais e urbanos, democratização do ensino e da cultura, nacionalização de bancos e empresas estrangeiras, expulsão dos “imperialistas e seus lacaios” do país e não pagamento da dívida externa.

Um manifesto lançado pela junta de governo, dois dias antes, dizia: “PÃO, TERRA e LIBERDADE é o nosso lema. É a vitória do Socialismo sobre a decantada Liberal- Democracia dos políticos profissionais; é a vitória da Aliança Nacional Libertadora; é a vitória de Carlos Prestes; é a vitória do direito do mais fraco, que nunca teve direito! Direito ao que é seu, usurpado pelo mais forte; direito ao PÃO com suficiência; direito às TERRAS; direito à LIBERDADE”.

Na mesma noite em que foram rodados mais de mil exemplares de A Liberdade, porém, chegaram notícias de que forças legalistas compostas pelo Exército e pelas polícias de estados vizinhos preparavam-se para retomar Natal. Logo a junta de governo seria informada da derrota de uma de suas colunas na serra do Doutor (entre Santa Cruz e Currais Novos). Os vitoriosos, comandados por Dinarte Mariz, fazendeiro e chefe político de Caicó, também rumavam para a capital.

Os integrantes do governo revolucionário concluíram pela impossibilidade da resistência. Na madrugada do dia seguinte, abandonaram a cidade, mas acabaram presos pouco depois. A única exceção foi José Praxedes, que conseguiu escapar da repressão legalista e ocultou sua identidade por 50 anos (esta história é contada por Moacyr de Oliveira Filho em Praxedes, um operário no poder).
REPRODUÇÃO
Com a eclosão do levante em Natal, militares cariocas organizaram às pressas uma sublevação no dia 27 de novembro
Assim, no dia 27 de novembro, a insurreição estava derrotada. O governador Rafael Fernandes retomou o seu posto e restaurou a antiga ordem no Rio Grande do Norte.

Cerca de mil pessoas foram indiciadas nos processos que trataram do levante potiguar de 1935. Com base nesses autos, é possível desvendar a composição social da insurreição. De acordo com Marly Vianna, autora de Revolucionários de 35, em Natal, 45% dos indiciados eram militares, especialmente soldados, cabos e sargentos, mas nenhum oficial do Exército; 27%, operários, sobretudo estivadores; 11%, profissionais liberais; 11%, trabalhadores urbanos de condição modesta, como alfaiates, padeiros, barbeiros, sapateiros e comerciários.

No interior, 24% dos indiciados eram trabalhadores rurais; outros 24% eram profissionais liberais; 16% eram trabalhadores urbanos; e 15%, operários.

RAZÕES DO LEVANTE Há que perguntar quais as condições que transformaram a insatisfação dos militares do 21o BC com as dispensas num movimento revolucionário. A resposta encontra-se tanto na conjuntura política estadual quanto na estratégia adotada pela direção nacional do PCB.

A partir de 1934, agravaram-se as disputas no interior da elite potiguar. De um lado, estava o grupo de Mário Câmara, nomeado interventor federal por Getúlio Vargas, em 1933. De outro, o Partido Popular (PP), liderado pelo ex-governador José Augusto Bezerra de Medeiros e que reunia a oligarquia apeada do poder pela Revolução de 1930.
Os desentendimentos entre as duas correntes freqüentemente degeneravam em choques armados. No fim de outubro de 1935, o PP voltou ao poder, com a vitória de Rafael Fernandes nas eleições estaduais. Assim que tomou posse, Fernandes iniciou uma perseguição aos adversários.

A Guarda Civil, criada no governo anterior, foi dissolvida. Seus 400 homens foram despedidos, porém não desarmados. Além disso, cabos e sargentos do 21o BC perderam seus cargos comissionados, acusados de ser camaristas.

O clima de tensão política também era alimentado pela atuação do movimento operário e pelo
PCB. Ao longo de 1935, eclodiram várias greves no estado, como a dos ferroviários da Great Western. Os comunistas eram influentes nos sindicatos, assim como entre os militares subalternos. Ainda naquele ano, o PCB organizou uma guerrilha na região de Mossoró, que sobreviveu até 1936.

Os acontecimentos locais tiveram um peso decisivo na deflagração da revolta, mas ela só pode ser integralmente compreendida dentro de um quadro político mais amplo.

No início de 1935, o PCB participou da organização da ANL no país. Naquele momento, o movimento comunista mundial empenhava-se na formação de frentes populares – como as que venceram as eleições na França e na Espanha – com vistas a barrar a ascensão do fascismo. Para tanto, os comunistas deveriam se unir aos socialistas, liberais e todas as forças democráticas.
A fundação da ANL, que tinha Luiz Carlos Prestes como seu presidente de honra, seguia essa orientação. Ao mesmo tempo, a direção do PCB preparava-se para o assalto ao poder.

Em julho de 1935, Prestes lançou um manifesto que terminava assim: “Abaixo o fascismo! Abaixo o governo odioso de Vargas! Por um governo popular nacional revolucionário! Todo o poder à ANL!”.

O plano insurrecional contava com o apoio da Internacional Comunista (IC), que enviou alguns de seus assessores – Olga Benário entre eles – para o Brasil. A ação começaria com levantes militares, a serem acompanhados pela mobilização de trabalhadores em greves em todo o território nacional.

Em princípio, no dia 23 de novembro, o PCB de Natal procurou convencer os militares subalternos do 21o BC a não se rebelar. Argumentou que ainda não era o momento. Ante a inevitabilidade do levante, os comunistas dele participaram e se tornaram os seus dirigentes. No dia 24, militares sublevaram-se em Recife, sendo vencidos um dia depois.

Pegos de surpresa pelo levante na capital do Rio Grande do Norte, a direção nacional do partido e os agentes da IC decidiram colocar em marcha movimentos no Distrito Federal e em alguns estados. Só conseguiram levar o plano adiante no Rio de Janeiro, sendo vencidos no fim da manhã do dia 27.

O governo Vargas aproveitou para lançar uma dura e extensa repressão contra seus opositores – não apenas comunistas. As medidas tomadas então, de certo modo, anteciparam o golpe do Estado Novo.
Marco Aurélio Vannucchi L. de Mattos é historiador, Mestre e Doutorando em História Social pela USP. Autor, entre outros títulos, de contra os inimigos da ordem ( Editora DPA, 2003).

Os Massacres


Por Maria Auxiladora O. Silva; Maria Zilda de Morais; Nara Ednah de Brito e Neily Lopes Dutra – Alunas do período 99.2)

Massacre no Ferreiro Torto

Tantos massacres se sucederam por aqui, nas denominadas terras do Rio Grande, que fica difícil não nos constrangermos com tantas barbaridades. Esses atos de violência e enorme crueldade que caracterizaram o domínio holandês, aqui nessas terras, começou pelo ataque aos moradores do engenho Ferreiro Torto. A expedição desembarcou no local conhecido por " Passagem do Potigi" . Depois de terem matado algumas pessoas neste local, seguiram adiante por terra, para o já citado engenho. Hélio Galvão assegura que os " atacantes fugiram e o major Cloppenburch prosseguiu, andando mais três léguas, desde aquele ponto em que ele com os outros companheiros desembarcara. Um trecho pantanoso do caminho, já sendo tarde, impediu que atingissem o engenho, pelo que decidiram regressar à fortaleza" . ( GALVÃO: 1979, p. 83). Ao mesmo tempo corria o boato que forças portuguesas estariam a caminho, vindas da Paraíba, para ajudar os que alí se encontravam. Mas os holandeses não admitiam que se organizassem focos de resistência à sua autoridade. "Convocaram, então, o cacique Janduí, inimigo mortal dos portugueses. Na luta que se travou em ferreiro torto, morreram Francisco Coelho, proprietário do engenho, sua mulher, cinco filhos e sessenta pessoas que estavam lá refugiados". (CASCUDO: 1992, p. 14).

O Massacre de Cunhaú

O primeiro engenho construído no Rio Grande do Norte, foi palco de uma das mais trágicas páginas da nossa história. " Este engenho era a menina dos olhos dos holandeses por causa da fertilidade das suas terras" (SOUZA: 1999, p. 40). O ano era 1634, e nesse fatídico dia, sem que ninguém esperasse, pois foram enganados por Jacob Rabbi, o comandante da tropa de tapuias, potiguares e holandeses que ali chegaram com a ordem de matar todos que ali se encontravam. Esse homem indescritível, aportara por aqui para servir de intérprete entre os holandeses e os tapuias. Mas o ocorrido em Cunhaú, demonstrou que ele foi mais que um simples intérprete.

Diversos historiadores nos relatam que esse engenho foi fundado pelos irmãos Antônio e Matias de Albuquerque, na sesmaria que receberam do seu pai, Jerônimo de Albuquerque. Obedecendo a um pedido de Rabbi para que comparecessem à Igreja para tratar de um certo negócio e prometendo não ferir ninguém, muitas pessoas foram à capelinha, no dia marcado. Mas a intenção de Rabbi era outra. E, quando estavam todos ali reunidos começou a matança iniciada pelos tapuias chefiados por Jererera. Foram de uma crueza e violência sem par. "O oficiante voltou-se para os algozes e lhes disse na língua deles, em que era perito, que se tocassem em sua pessoa ou nos paramentos sagrados seriam castigados. Alguns recuaram outros nem o escutaram e os abateram". (GALVÃO : 1979, p.86). "Depois deste massacre, nunca mais os holandeses tiveram paz em Cunhaú, sucessivos atos de vingança foram realizados àquele engenho pelos portugueses"( CASCUDO: 1992, p. 35).

A chacina desse engenho promoveu uma tomada de consciência, por parte da população portuguesa, fazendo-a empenhar-se , com redobrado vigor, à tarefa de combater e expulsar os dominadores flamengos.

O Massacre na casa forte de João Lostão Navarro

Depois da matança no engenho Cunhaú, o pânico tomou conta da população daquela região. Quem não se refugiou nas fronteiras da Paraíba com o Rio Grande, dirigiu-se para a casa do sesmeiro João Lostão, situada "no desaguadouro da lagoa de papari, barra do camurupim" (CASCUDO: 1995, p. 69). Ele era sogro de Joris Garstman, primeiro governador holandês do nosso Estado.

Os holandeses temiam que aquele lugar viesse a se transformar em perigoso núcleo de resistência; trataram de expulsar os pobres colonos. Eles entendiam (os holandeses), que esses colonos estavam se preparando para uma rebelião. Sendo ameaçados e intimidados várias vezes por Rabbi e sua tropa, eles argumentavam que estavam ali para se protegerem, pois temiam por suas vidas, ameaçadas pelos selvagens. Mas o temível, o insaciável Rabbi não aceitou aquele argumento. Comandou e ordenou mais uma vez o ataque, promovendo outra carnificina, que foi realizada pelos Janduís e Potiguares. "Assassinaram de quinze a dezesseis pessoas, e trouxeram preso, para a fortaleza, João Lostão Navarro" (SOUZA: 1999, p. 44).

O Massacre de Uruaçu

Espantados com o que aconteceu em Cunhaú e na casa de João Lostão Navarro, alguns colonos "refugiaram-se nas margens do Rio Potengi, três léguas de Natal, erguendo uma defesa murada de madeira rústica" (CASCUDO: 1955, p.83). Depois de passarem por tantos massacres, tanta carnificina, resolveram se defender erguendo essa fortaleza de madeira. E mais uma vez foram enganados. Acreditando na conversa dos holandeses que poderiam sair da fortaleza pois estavam a salvos dos tapuias, os moradores acima citados caíram mais uma vez numa cilada. E foram massacrados assombrosamente pelos brasilianos que os esperavam no lugar em que foram levados pelos holandeses. E estes os ajudaram a matá-los, arrancando os olhos a uns, tirando as línguas de outros, "cortando as partes vergonhosas e metendo-lhes nas bocas" (CALADO: 1945, p. 151-2). Trazendo o restante que tinha ficado na cerca para esse mesmo local, enganando-os também, iniciaram novo massacre, sem deixar nenhum vivo. E foi de uma barbaridade tão grande que "seus membros foram divididos em partes que não se conhecia quais eram os de cada um dos ditos mártires. No mesmo instante foram os mesmos tiranos flamengos, e brasilianos à cerca, aonde somente ficaram as pobres viúvas, e órfãos, e as acabaram de despojar de todos seus bens, deixando-as a muitas nuas e com outros opróbrios, que passo em silêncio"(CALADO: 1945, p.151– 2).

A morte de Jacob Rabbi

Não podemos terminar a descrição destes massacres, sem darmos uma notícia sobre o final da vida do seu principal mentor: Jacob Rabbi. Ele, que colecionou tantas mortes na terra Potiguar, morreu assassinado por dois soldados, na madrugada de 5 de abril de 1646, a mando do comandante Joris Garstman, que desta maneira, vingara a morte de João Lostão Navarro ( SOUZA: 1999, p. 47).

Favor citar da seguinte forma:

SILVA, M. A O.; MORAIS, M. Z. de; BRITO, N. E. de e DUTRA, N. L.. Os massacres. História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:

Referências Bibliográficas

CALADO, Francisco Manuel. O Valoroso Lucídeno e triunfo da liberação. São Paulo: Edições Cultura.

GALV ÃO, Hélio. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura.

MEDEIROS FILHO, Olavo. Os holandeses na Capitania do Rio Grande. Natal/RN: Instituto Histórico E Geográfico do Rn, 1998.

SUASSUNA, Luiz Eduardo Brandão; MARIZ, Marlene da Silva. História do Rio Grande do Norte Colonial: 1597/1822. Natal: Natal Editora, 1997.

SOUZA, Itamar de. Diário do Rio Grande do Norte. Projeto ler do diário de natal. Natal: 1999.

GALVÃO, Hélio. História da Fortaleaza da Barra do Rio Grande. Rio de Janeiro, Conselho Federal de Cultura.

CASCUDO, Luiz da Câmara. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1984.

A invasão holandesa no Rio Grande


(Por Genilson Medeiros Maia – Aluno do período 98.2)

Os holandeses mantiveram os primeiros contatos com a capitania do Rio Grande em junho de 1625 (CASCUDO: 1955), quando chegaram à Baía da Traição, transportados por uma imensa esquadra, comandada por Edam Boudewinj Hendrikszoon, que não chegara a tempo para defender o domínio de Salvador, na Bahia.

Na ocasião, muitos dos marujos flamengos encontravam-se doentes, razão pela qual o comandante da esquadra procurou guarida para os mesmos, em terra firme, lá mesmo, na Baía da Traição. Não encontrou um bom tratamento para os enfermos, pois deparou-se com muitos índios assustados com os visitantes, mas, não obstante, conseguiu observar as terras e principalmente a adesão de vários índios potiguares, que viajaram para a Holanda, de onde regressaram alguns anos ulteriores, possuídos pela cultura holandesa, tanto no que diz respeito ao idioma, ao credo e mormente ao ideário, para servir de peça chave quando do domínio holandês no Rio Grande, haja vista a facilidade com que conseguiram a adesão da indiaria potiguar aos fitos dos invasores.

A invasão do Rio Grande deu-se muito mais pela sua localização geográfica, servindo assim de ponto estratégico para o fortalecimento do domínio holandês no Brasil, e pela sua potencialidade no tocante ao fornecimento de provisão, sobretudo carne bovina aos moradores de Pernambuco, que pela sua produção açucareira ou até mesmo potencialidade nesta atividade econômica ou em outras atividades como a aurífera que também as interessava.

A estratégia usada para a invasão consistiu em, primeiro, obter informações sobre o poder de força lusa na capitania e, segundo, fazer o reconhecimento do litoral potiguar e buscar articulações com a indiaria. Isso se deu inicialmente em outubro de 1631, com o envio de uma grande expedição ao Rio Grande, que terminou por não lograr êxito no tocante à invasão em si, em razão da brava reação do então capitão-mor Cipriano Pita Porto Carreiro.

Uma outra expedição foi enviada em 1633 comandada pelos chefes militares Jan Corlisz Lichthardt e Baltazar Bijma, acompanhados de Mathijs van Keulen e Servaes Carpenter. Esta expedição aportou em Ponta Negra, três dias depois de sua partida de Pernambuco, na manhã de 08 de dezembro do mesmo ano, e ajudadas pelos índios, as tropas holandesas viajara à Holanda em 1625 avançaram sobre a Capitania, sem encontrar resistência, chegando em Natal no período vespertino do mesmo dia, quando imediatamente partiram rumo ao Forte dos Santos Reis, para combaterem as fracas forças portuguesas. Três dias de combates foi o bastante para que as forças portuguesas capitulassem, embora sob o protesto do capitão-mor do Forte, Pero Mendes Gouveia, que se encontrava gravemente ferido. No mesmo dia da rendição, os holandeses assumiram o controle do Forte, tendo como comandante o capitão Joris Gastman, mudaram o nome da fortaleza para Castelo de Keulen, assim como o de Natal para Nova Amsterdã e começaram uma fase de domínio absoluto que ficou caracterizado pelo abandono, violência e rapinagem sobre os povoados então existentes.

Com a assunção do poder, os holandeses trataram de seguir as normas administrativas definidas em um regimento preparado pela Companhia das Índias Ocidentais antes mesmo da invasão a Pernambuco e, posteriormente, um outro trazido pelo Conde João Maurício de Nassau. Segundo estes documentos, os habitantes potiguares que aceitassem passivamente a dominação flamenga ficariam sãos de massacres e da destruição de seus bens. Quanto aos portugueses, o documento estabelecia que deveriam manter seus engenhos de cana-de-açúcar, e para tanto concedia-lhes liberdade de comércio desde que utilizassem seus navios para transportar os produtos comercializados. Os que não se sujeitassem a essa condição seriam obrigados a deixar o País e os seus bens eram confiscados.

Os holandeses, todavia, sempre dispensaram um tratamento especial aos índios, a quem chamavam de brasileiros. Os índios se configuravam como fortes aliados nas lutas contra os portugueses, que sempre tentaram escravizá-los. Eles, os índios, chegavam de certa forma a ser paparicados pelos holandeses, na medida em que evitavam continuamente constrangê-los ou escravizá-los em trabalhos forçados e, ao contrário, procuravam educá-los e catequizá-los segundo sua cultura e sua religião cristã reformada.

No que se refere à organização administrativa, os holandeses procuraram introduzir uma administração governativa igual à da metrópole e criaram as Câmaras de Escabinos ou Juntas de Justiças e as Freguesias ou Comunas, as quais contavam com três membros, sempre presididas pelo Esculteto, que sempre era representado por um holandês. Aos índios também fora imposta essa forma governativa.

Durante esse domínio holandês (1633-1654) aconteceram massacres sanguinários em Ferreiro Torto, Cunhaú, Uruaçu, Extremoz e Guaraíras, quase sempre praticados pelos índios aliados aos novos invasores. A propósito, esse domínio holandês sobre boa parte do Nordeste do Brasil, começou a dar sinais de fragilidade em 1638, quando da tentativa fracassada da conquista da Bahia, porém a sua longevidade deu-se muito mais por entendimentos políticos entre Portugal e Holanda que por superioridade das tropas flamengas sobre as portuguesas. A prova indelével disso é que quando o mestre de campo Luís Barbalho Bezerra partiu, em 1639, de Touros rumo à Bahia conseguiu seguidas vitórias sobre os holandeses, chegando, inclusive, a prender o comandante do Castelo de Keulen - Joris Gastman.

Favor citar da seguinte forma:

MAIA, G. (1998). A invasão holandesa no Rio Grande (resumo). História do RN n@ WEB [On-line]. Available from World Wide Web:

"GUERRA DOS BÁRBAROS"

INTERIORIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA E A "GUERRA DOS BÁRBAROS"

(Por Eudes Dantas; Iracema Pereira; Jailma Oliveira N. F. de Azevedo; Margarida Maria da Silva; Maria das Dores Medeiros; Maria do Carmo Gomes; Sandra Cunha – Alunos do período 2001.2)

Durante o período colonial, as Capitanias Brasileiras tinham como base econômica a cultura da cana-de-açúcar. No Rio Grande do Norte essa base econômica se solidificou com o cultivo da cana - de- açúcar no litoral e o desenvolvimento da pecuária no Sertão, onde as terras eram impróprias para a cultura da cana. Essa atividade que de início era feita em pequena escala, passou a se expandir Sertão adentro quando ocorreu a ocupação Holandesa em Pernambuco. Tal expansão se deveu especialmente, ao fato de Pernambuco necessitar do gado tanto como força motriz para seus engenhos, como para o abastecimento alimentício, uma vez que o principal produto cultivado na referida capitania era o açúcar. Além do mais, o gado se constituía numa fonte econômica abundante, já que dele era aproveitado quase tudo, inclusive o próprio couro que era exportado para outros países e que levou ao surgimento de oficinas de beneficiamento (curtumes) em Recife.

Todavia, com a expulsão dos Holandeses do Brasil muito gado ficou sem dono, vagando e espalhando-se pelo Sertão, fazendo com que logo colonos interessados em apascenta-los, ocupassem suas ribeiras. E com a colonização Portuguesa e o povoamento se acentuando cada vez mais, através da formação das cidades e vilas, ficava bastante complicado alimentar a população, visto que as terras que não estavam sendo utilizadas para o plantio de cana-de-açúcar, estavam ocupadas com a criação do gado. Para solucionar esta questão, as autoridades provinciais resolveram limitar a criação do gado, proibindo-a até dez léguas do mar e também as margens dos rios, para que estas terras pudessem ser preservadas tanto para o cultivo da cana, quanto também, para outros produtos agrícolas. Essa legislação resultou na ocupação das terras até então inexploradas, já que a atividade pecuária exigia uma maior quantidade das mesmas.

Contudo, a posse da terra era controlada pelo Governador Geral que só concedia a posse mediante o "povoamento" dentro de um ano, sendo esta posse cabível quando entregue aos colonos portugueses ou vassalos do rei de Portugal. Assim, criou-se no pensamento colonial a idéia de um interior "vazio", apesar de ser habitado pelos nativos da terra que não foram tidos como seres humanos. Todavia, de início foi muito comum à convivência pacífica entre nativos e portugueses, devido principalmente ao pagamento de "resgates", por parte dos colonos. Vê-se assim, que existia um medo em demasia por parte do gentio devido ao avanço do colonizador em suas terras e vice-versa. Esses resgates eram uma espécie de "imposto da paz", que visava uma certa cordialidade entre o invasor e o invadido.

A partir de então, a ocupação portuguesa no Sertão do Rio Grande do Norte se intensificou devido ao avanço das frentes pastoris, que objetivava expandir a pecuária Sertão adentro, chegando o momento que devido a esse avanço pastoril, a presença indígena se torna um empecilho à colonização, levando as autoridades coloniais a utilizarem como estratégias de desocupação destas terras, a eliminação dos nativos que resistissem aos interesses colonizadores, especialmente os homens, já que as mulheres e crianças não eram mortas, pois poderiam servir aos interesses dos colonizadores.

Nesse período, nas Capitanias do Norte, habitavam os índios denominados de Tupis, que habitavam o litoral e Tapuias que habitavam o interior. Estes eram constituídos de vários grupos que possuíam especificidades entre si. Os Tarairiú era um desses grupos Tapuias habitantes do Sertão que se distinguia dos Kariri e dos Gê. Graças ao estudo de alguns cronistas, podemos conhecer como eram divididas as famílias Tapuias e onde habitavam essas várias nações. Os Tarairiú eram subdivididos em dois grupos e se diferiam entre outros aspectos, lingüístico – culturalmente dos Kariri e tinham como chefes Janduí e Cerro-Corá. Os primeiros habitavam áreas sub-litorâneas, como as margens dos rios da região Seridó e o segundo habitava nas proximidades de rios permanentes, como o Rio S. Francisco. Um dos aspectos da cultura indígena que provam as suas diversidades culturais, é a prática do endocanibalismo, ou seja, quando morria um membro da tribo, este era comido pela própria tribo, e também quando nascia um bebê morto, este era comido pela mãe, o que não acontecia com a tribo Kariri. Os Tarairiú que habitavam o Sertão da Capitania do Rio Grande dividiam-se em Jandui, Ariú, Pega, Canindé, Genipapo, Paiacú, Panati, Caratiú e Corene, os quais tiveram contato com os colonos portugueses quando a pecuária adentrou os Sertões. Esses Tapuias tinham os mesmos costumes de alguns índios do Brasil e gostavam de depilar e pintar todo o rosto e o corpo e costumavam cobrir os genitais, sendo que as mulheres usavam uma espécie de "avental" feito de folhas e os homens um cendal também de origem vegetal, além de enfeitarem o corpo com penas e outros adornos naturais.

O clima do sertão impunha aos Tarairiú uma vida seminômade, já que de acordo com as estações do ano, estes mudavam seu acampamento para outros lugares que garantissem seu sustento, não tendo aldeias fixas. Assim relatos apontam que nos meses de Novembro, Dezembro e Janeiro, os Tarairiú se colocavam perto do mar, já que essa região era mais rica. Dormiam em redes ou no chão. As migrações para outras áreas eram indicadas pelos feiticeiros e anunciadas pelos reis que determinavam o local do próximo acampamento. As mulheres eram encarregadas de transportar bagagens e procurar paus e folhagens para confecção de um novo abrigo e os homens eram encarregados da caça, da pesca e da procura de mel, já que sua alimentação básica era esta, juntamente com frutos, raízes e ervas. Após as chuvas estes se deslocavam para as várzeas dos rios, onde plantavam mandioca, milho e legumes.

Os Tarairiú eram guerreiros temidos até por outros indígenas devido sua força, velocidade e destreza na guerra. Além das armas européias, eles adotaram o uso de cavalos, o que causava espanto aos Portugueses. Sendo uma sociedade guerreira, a posição dos "principais", ou seja, de um grande guerreiro, era de grande prestígio, havendo cerimônias de coroação com muitos festejos. Os acordos de paz também eram feitos com a presença do guerreiro, sendo que este juntamente com os seus, se tornavam a partir do "acordo", vassalos do Rei de Portugal.

Percebe-se até então, que estão explícitos os interesses coloniais para "livrar" o território da presença indígena, seja pela morte, pela fuga ou pela rendição forçada ou ainda com outras estratégias de intimação para obter escravos disponíveis a colonização. E na tentativa de expulsar os índios e de se apropriar das suas terras para desenvolver a pecuária, iniciava-se a ampliação das fronteiras econômicas em direção aos Sertões das Capitanias Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Contudo, esse empenho colonial gerou muitos conflitos, onde até os padres seculares temiam vir até o Rio Grande, por medo dos "bárbaros" tapuias. Durante as décadas de 1670 e 80, com a distribuição de sesmarias nas ribeiras dos rios Acauã, Seridó, Açu, Apodi e Mossoró, e implantação da pecuária na capitania do Rio Grande, foi criada uma situação que de certa forma favoreceu uma convivência entre os Tapuias e vaqueiros, tanto que os conflitos eram resolvidos através de "acordos", sendo que em algumas situações, os conflitos eram resolvidos através da "força", ou seja, pela escravização indígena para a mão-de-obra. Esses conflitos foram se alastrando e fazendo com que a situação se agravasse em ambas as partes, pois a interiorização cada vez mais forte da pecuária vinda de um lado, do litoral de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande e do outro (Maranhão, Piauí e Ceará), colocava os indígenas numa situação de imobilidade diante das frentes pastoris, levando-os a se constituir numa barreira à colonização, que foi denominada de "muro do demônio". Por conseguinte, os índios "espremidos" num limite mínimo de terras, pressionadas e sem saída reagiram violentamente, levando a capitania a uma deflagração que ficou conhecida como a "Guerra dos Bárbaros".

No ano de 1687, a reação Tarairiu à colonização, intensificou-se tanto que foi preciso pedir intermédio de um vereador da câmara enviado ao governador geral na Bahia, pois o levante já havia causado grande catástrofe. O governador geral Mathias da Cunha, vendo a possibilidade da retomada das terras pelos Tarairiú, ordenou que o coronel Antônio de Albuquerque da câmara assumisse a liderança de interesse dos colonizadores.

Os Portugueses construíam várias casas fortes onde se instalavam, só que por serem feitas apressadamente, estas eram inseguras o que permitia constantes ataques dos nativos. Logo os colonizadores tentaram repreender os "indígenas", enviando tropas paulistas lideradas por Domingos Jorge Velho, para guerrear contra eles. Os objetivos dessa luta seriam degolar os guerreiros e escravizar suas mulheres e crianças, já que estas úteis, podendo ser inclusive vendidas para pagar os custos da guerra. Além disso, as mulheres cativas, iriam trabalhar na agricultura, enquanto as crianças seriam educadas nos moldes católicos e de acordo com os interesses dos dominadores. Nesse sentido, aos poucos eles iriam se desprendendo de suas raízes culturais.

Percebe-se assim, que a guerra afetava profundamente o cotidiano dos indígenas, já que estas aconteciam em seus territórios forçando-os a migrar para o Litoral em busca da sobrevivência, o que antes faziam voluntariamente só nos períodos de seca para dela escapar. Essa nova situação levava os indígenas, como os Panati, a saquearem fazendas roubando e matando gado na tentativa desesperada de sobreviver à colonização portuguesa, fato que suscitou reações dos dominantes que logo buscaram conte-los, como comprovam as cartas enviadas pelos oficiais da Câmara de Natal ao capital-mor, solicitando desse que fizesse a distribuição desses índios já reduzidos na Aldeia do Guajiru, entre a população da Capitania para que estes passassem a reparar os danos que haviam causado aos colonos e moradores. Como se não bastasse a expropriação e a dizimação já realizada com esses índios pelos portugueses, estes ainda tinham que pagar uma conta que não lhes era sua e sim, devida pelos brancos aos mesmos. Todavia, como a lógica da colonização era além da liberação das terras para a pecuária, obter mão-de-obra necessária para o trabalho, se fazia então fundamental, desenvolver a escravidão. Daí o porque de retirar os indígenas da Aldeia com o pretexto de introduzi-los na fé católica, batizando-os e sustentando suas despesas em troca de seus serviços, pois caso permanecessem na aldeia não haveria como força-los ao trabalho, ou seja, escraviza-los. Por conseguinte, a guerra dos bárbaros só reforçou essa lógica ao atender os objetivos da colonização. Foi assim, que tanto Domingos Jorge Velho que dizimou muitos indígenas na serra do Acauã, hoje a conhecida Serra da Rajada, bem como, a tropa do Pernambuco comandada pelo capitão Afonso de Albertin, que dizimou a tribo dos Janduí na Ribeira do Açu, foram parabenizados pelos seus feitos pelo Governador geral e pelo novo governador de Pernambuco, já que seus prisioneiros foram levados para Recife como presentes para este último, sendo comercializados como escravos em praça pública para bom proveito de seus "carrascos" e ou vencedores.

Com o continuar da repressão aos Tapuias e as vitórias obtidas, os oficiais da Câmara de Natal enviaram um Memorial ao Rei, no qual alegando a este as perdas de colonos e despesas realizadas para com o desenvolvimento da "guerra dos bárbaros", solicitava o reparo das mesmas com o pagamento do gado perdido e a distribuição das terras "liberadas" entre as pessoas da Capitania, além da criação de um presídio no Arraial do Açu e de um alojamento com cem índios domesticados, para a proteção dos moradores e para que estes "ajudassem" no transporte do gado para Pernambuco.

É notório o interesse dos luso-brasileiros para que as perdas sofridas com a guerra, fossem logo reparadas, as terras expropriadas fossem distribuídas e ocupadas, evitando possíveis iniciativas dos Tarairiú de retoma-las. Todavia, estes bravios guerreiros, apesar das degolas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram ao longo dessa história que lhes fora imposta, resistiram por cerca de mais trinta anos sempre lutando como podiam pela posse de suas terras e na tentativa de vencer as injustas estratégias da dominação colonial. Assim, a colonização portuguesa no Rio Grande e no Brasil, se consolidou sob os moldes de uma visão cultural preconceituosa e injusta, onde o nativo passou de gentio a infiel, por não se submeter ou tentar resistir às imposições européias, fato esse, que acarretou o extermínio quase que completo dos nossos nativos.

ANEXOS:

BIBLIOGRAFIA:

LOPES, Maria de Fátima.Índios, Colonos e Missionários na Colonização do Rio Grande do Norte. Natal, 1999. Dissertação (Mestrado em História) Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Cap. 4. p. 102-129.

MONTEIRO, Denise Mattos.Introdução à História do Rio Grande do Norte – Natal:Edufrn, 2000. cap.1-2. p. 19-95

As Guerras dos Bárbaros ou A Guerra do Aç


A princípio o denominado Sertão do Açu compreendia toda ribeira do rio com este nome e a ribeira posteriormente chamada de Seridó, recorte espacial reputado como possuidor de grandes campos frescos e salubres, onde muito gado podia ser criado. Sua colonização começou no final da década de 1670 e início de 1680. Ocupavam originalmente essa região os nativos tapuias, na sua grande maioria pertencentes à nação dos janduís. Esta porção interior da Capitania do Rio Grande foi tocada inicialmente, pela empresa colonizadora, por vaqueiros que ali fabricavam currais e viviam em relativa paz com os primitivos habitantes.

Contudo, essa paz duraria muito pouco e está região seria palco das mais sangrentas batalhas e atrocidades cometidas ao longo das Guerras dos . Levantes isolados de grupos indígenas precederam o movimento que tomaria maiores dimensões e seria denominado na época como a Guerra do Açu.

Mesmo sendo difícil datar o início destas revoltas e levantes, é possível que os motivos da revolta remontam dos abusos de João Fernandes Vieira, Capitão-mor da Paraíba (1655–1657), quando este prendeu os dois filhos de Canindé, tido como "rei dos janduís".

As razões mais profundas podem ser encontradas na expulsão dos holandeses - fiéis aliados dos indígenas tapuias -, além do avanço da economia pastoril que promovia a ocupação das terras dos nativos, além do que, o sertão do Açu foi alvo da migração de pessoas vindas das demais províncias do Norte em fuga de um surto epidêmico de febre amarela. Diante desse panorama, os tapuias sentiram-se usurpados e resolveram reagir.

Por volta de 1661, cresceu a hostilidade dos tapuias, metendo medo no novo capitão-mor da Paraíba, Matias de Albuquerque Maranhão (1661–1663), o que escreveu imediatamente para a regente D. Luísa de Gusmão, avisando que os índios bárbaros haviam se rebelado causando grande receio à população branca do sertão. Por conseguinte, em 1662, a regente ordenou que fizesse guerra contra os janduís, antes que estes se fortalecessem.

Os conflitos com os tapuias se espalharam por todo sertão atingindo territórios dos atuais estados do Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. No Rio Grande, região do Açu, os conflitos persistiram, uma vez que as nações tapuias estavam causando danos e dando cabo aos colonizadores e vaqueiros além de matar e comer o seu gado.

Não controlando a rebeldia dos nativos, por volta de 1687, os edis da vila de Natal, pediam ao governador de Pernambuco, João da Cunha, ajuda para combater os tapuias que, no sertão do Açu já tinham matado cerca de cem pessoas, além de destruírem tudo o que encontravam.

Em pouco tempo os tapuias fizeram-se senhores, novamente, de todo sertão ameaçando inclusive os colonos na ribeira do Ceará Mirim. Tal proximidade com a sede da Capitania colocava em perigo os moradores de Natal. Houve então a necessidade da vinda de socorro da Bahia. A solução encontrada pelo Governador Geral foi autorizar o envio de duas Companhias que partiram sob o comando do Coronel Antônio de Albuquerque Câmara.

No que tange ao Seridó, na ribeira do Acauã, chega em 1687 o coronel Antônio de Albuquerque da Câmara, que ali possuía uma sesmaria, para dar combate aos gentios, usando como base militar a casa-forte do Cuó, cujos alicerces ainda podem ser encontrados em Caicó.

No entanto, esta expedição resultou em um enorme fracasso, fazendo com que os moradores da Capitania do Rio Grande ficassem bastante abalados a ponto de ameaçarem "despejar a Capitania". Essa decisão dos moradores fez com que o capitão-mor do Rio Grande baixasse um edital para impedir o êxodo em massa, alertando a população dos possíveis danos que sofreriam se abandonasse a capitania.

Diante do caos, o Governo Geral pediu que o paulista Domingo Jorge Velho marchasse de Pernambuco com todas as forças que conseguisse mobilizar, pois cria que suas tropas, moldada no combate ao gentio, seria capaz de vencer os rebelados, um vez que eram bem organizadas, ao contrario das tropas pernambucanas reunidas por Albuquerque Câmara e Manuel de Abreu Soares.

No início de 1688, Matias da Cunha já havia escrito aos edis de São Paulo, alertando para o fato de que o Rio Grande se achava oprimido pelos bárbaros. Ele também escreveu à mesma Câmara afirmando que das fronteiras chegavam avisos de que as tropas não se atreviam a investir contra os índios nas suas aldeias, e que estes chegaram até mesmo a cercar os quartéis onde estavam Domingos Jorge Velho Antônio e Albuquerque Câmara, que pelejando quatro dias com os bárbaros, por falta de munições, tinham se retirado dos quartéis.

O acampamento do sertanista situava-se na ribeira do Piranhas, fronteira com a Paraíba. Combateu no Seridó sem, no entanto, participar da última batalha da guerra cujo palco foi o Acauã. Ali ficou sob o comando das tropas, um cabo de seu terço, que "derrotou o gentio (...) e trouxeram mil e tantos prisioneiros" . Neste combate teria sido preso o cacique Canindé, que em 1692 firmou um acordo de paz com os portugueses.

Segundo as informações do Capitão-mor do Rio Grande, Agostinho César de Andrade, em 1689 os bárbaros haviam se fracionado. Todavia, alguns janduís, chamados Panatis, resolveram continuar as hostilidades obstinadamente, enquanto outros negociaram as pazes.

Mesmo essa iniciativa não foi suficiente para os colonos, pois uma onda de pavor se espalhou entre aqueles que acreditavam que os tapuias tivessem pedido a paz para dela se aproveitar, preparando assim, uma ofensiva final.

Domingos Jorge Velho, continuou na peleja com os índios pelo menos até o final de 1689. Com efeito, em outubro, seu sargento-mor obtivera uma importante vitória sobre os bárbaros, que resulta na captura do principal janduí, Canindé.

A paz não foi uma conquista imediata. Alguns fatores conspiram a favor da instabilidade: negligência para com as tropas de Matias Cardoso; o atraso no pagamento dos soldos, que foi tratado apenas em 1693, deixando os soldados em desespero por causa da situação de desamparo que os desanimava. Corria-se desta forma o risco um motim desses soldados visto que já que a fazenda da capitania não dispunha mais de recursos para investir na guerra, sendo assim, os esforços de paz corriam sérios riscos.

Ainda em 1693, Matias Cardoso atacou os índios do Ceará, não alcançando muito êxito. Em 1695 estavam terminadas as atividades formais da Campanha dos paulistas.

Em 1694 João de Lencasto assumiu o Governo Geral na Bahia com o interesse de solucionar a Guerra dos Bárbaros. Em carta ao Capitão-mor do Rio Grande sugeriu para por fim às guerras que se procurasse a paz acima de tudo.

Na tentativa de arrefecer a rebelião dos tapuias fortaleceu-se a idéia de que era necessário o repovoamento co a ocupação perene das regiões fronteiriças. Para este feito as medidas foram tomadas. A determinação ordenava que em Açu, Jaguaribe e Piranhas se pudessem seis aldeias de índios. A importância dessa medida foi destacada por Lencastro de duas maneiras: de um lado a razão militar visto que essas aldeias amigas seriam importantes para a defesa das fronteiras; por outro lado o sistema econômico das lavouras açucareiras dependia do fluxo de animais de corte provindos desses sertões. Sendo assim, o cordão defensivo das aldeias, além do povoamento iria reconstruir a economia local e garantir a segurança.

Além dessa alternativa ganhava corpo outra que considerava a idéia de se chamar o terço Paulista para intervir já que tentar fazer as pazes com os tapuias era considerado um esforço de muito risco. Portanto, estavam postas na mesa duas saídas: a paz com os índios através do povoamento, ou a guerra continuada em bases militares.

A decisão tomada e aceita pelo rei em 10 de Março de 1695, foi de contratar o terço de paulistas, patrocinando-os e executando a lei de 1641 que possibilitava que esses "soldados" poderiam fazer os índios de cativos, no lucrativo comércio de escravos.

Os moradores do Rio Grande, associados à açucocracia de Pernambuco eram partidários de uma solução pacífica tendo como aliado o capitão-mor Bernardo Vieira de Melo, que achava que "só por meio da paz podia haver quietação". Na visão do capitão-mor, o melhor a fazer era um presídio na Ribeira do Açu, e os cordões de aldeias para povoarem as fronteiras. Sua iniciativa era contrária àquela articulada na Bahia, indicando que o levaria a uma colisão com o terço dos paulistas.

Os argumentos de Bernardo Vieira de Melo não surtiram efeitos para coroa, que já puseram em marcha a máquina de guerra paulista, comandada pelo meste-de-campo Manuel Alvares de Morais Navarro, que distribuiu patentes a ele e a todo o terço que fizeram parte deste levante. Navarro e sua gente partiram para Bahia de onde o terço saiu em direção a Paraíba. Após oito meses (10 de maio de 1699) juntaram-se a esse terço os capitães Manuel da Mata Coutinho e Manuel de Siqueira Rondon, acompanhados de setenta soldados.

As tensões permaneceram até que as pazes foram sendo tecidas pouco a pouco e o trabalho de sedentarização dos índios foi sendo orquestrado pela Coroa.

BIBLIOGRAFIA:

MACÊDO, M. História e espaço seridoenses entre os séculos XIX e XX. Mneme – Revista Virtual de Humanidades. CERES. Vol. 01, n.01. p.01-50. 2000.

PUNTONI, P. A Guerra do Açu. In: - A Guerra dos Bárbaros – povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. S. Paulo, 1998.254p, Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. (CAP. 04).